sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

CHAPA 2,TRANSPORTE PÚBLICO DIGNO!


O drama dos trabalhadores que dependem de ônibus na região do Grande ABCD,parece não ter fim, ainda que o sistema seja apontado como a grande solução para melhorar a mobilidade urbana. De tanto receber queixas, o RD foi às ruas para ouvir usuários e o resultado foi um rosário de reclamações sobre a qualidade do serviço prestado pelas empresas, a começar pela sofrida espera dos carros nos pontos de parada, que demoram. Contam que os ônibus da mesma linha demoram, em média, meia hora para passar. Oito entre 14 entrevistados disseram que gastam, no mínimo, uma hora por dia nos pontos de ônibus.

Muitas reclamações:

“Eu sempre reclamo para os cobradores e eles tentam justificar que há poucos carros nas linhas”, conta Francisca Alcântara, usuária da linha 16 – Alvarenga, em São Bernardo. “Semana passada, fiquei mais de uma hora esperando por um ônibus da Trans Bus. Liguei para a empresa reclamando”, completa Francisca, que não obteve resposta da empresa sobre a reclamação.

Em Diadema, o aposentado Antonio Carlos Lopes, de Diadema, conta que a esposa deixou de aceitar um emprego no Centro da cidade, por causa da linha 112 – Santo Amaro, único ônibus que faz o trajeto necessário. “O ônibus da linha já chegou a demorar uma hora e meia e não tem horário definido para passar. Houve vezes em que o motorista mudou o trajeto por conta própria”, diz o usuário.

Indignada com o martírio, Maria Carvalho, professora da rede pública e moradora de Mauá, que já chegou a passar horas esperando ônibus. “Em dias de chuva, já fiquei quatro horas no ponto sem passar ônibus. Até mesmo dentro de Mauá, a demora é duas horas”, reclama.

Motoristas não obedecem parada:

Michelle Raeder, não consegue respostas e nem melhorias relativas às inúmeras reclamações que fez na ouvidoria da empresa Urbana. Moradora de Santo André, Michelle conta que motoristas da empresa não respeitam a solicitação de parada no ponto situado na Praça IV Centenário, ao lado da Prefeitura. “Quando há outros veículos parados no ponto, eles não esperam para ver se há passageiros. Muitas vezes é preciso ir para o meio da rua para que o motorista veja que é preciso parar no ponto”, reclama a jornalista.

A faxineira Evanilce Bispo, de Diadema, também não teve sua solicitação atendida, no caso, para descer do ônibus. “Hoje mesmo, eu dei sinal duas vezes, o motorista passou os dois pontos e só parou no farol, um absurdo. Estou tendo que voltar agora”, conta Evanilce.

Michelle e Evanilce não são as únicas a se queixar do atendimento. Relatos de motoristas que correm demais e freiam bruscamente são muitos. O casal Maria de Lourdes e Francisco José da Silva afirma que muitas vezes percebe o despreparo dos profissionais. “Eles deveriam ser mais bem treinados. Às vezes é como se estivessem carregando animais na carga”, afirma Maria de Lourdes. “Os motoristas dos ônibus menores são os que mais correm”, reclama Francisco.

Horário não é respeitado:

O horário de funcionamento dos ônibus também é alvo de críticas. Nos finais de semana e feriado, as frotas são menores, com isso o tempo de espera no ponto é maior. Além disso, grande parte das linhas para de funcionar à meia-noite, o que prejudica quem estuda ou trabalha no período da noite. “É preciso aumentar o horário de atendimento do transporte público. Quem sai tarde do trabalho, se acontece algum imprevisto, não tem como voltar pra casa”, reclama Clenilza Panato, funcionária pública estadual e usuária de ônibus em Santo André.

A universitária Camila Luz, que mora no distrito Riacho Grande, em São Bernardo e estuda no bairro Rudge Ramos, já passou apuros. “A palestra na faculdade acabou às 23h20. Tive de pegar um taxi até minha casa porque não havia mais ônibus pra lá”, conta a estudante que sai da faculdade às 22h30 e só consegue chegar em casa meia-noite.

Tarifas muito caras:

O aumento das tarifas de ônibus nas cidades do ABC gerou não só reclamações como atos de protesto. Membro do Comitê Unificado Contra o Aumento da Tarifa, o estudante Felipe Morales, morador no Centro de Diadema, considera o preço da passagem abusivo para a qualidade do serviço que as empresas oferecem. “O aumento da frota de ônibus deveria ser uma das prioridades do Poder Público”, acrescenta.

O grupo reúne membros da sociedade civil e representantes de partidos políticos, em busca da revogação imediata do aumento das passagens no ABC. “Queremos a revisão já, pois estamos sofrendo com a passagem do ônibus neste preço”, reclama Carolina Colto Alves, membro do Comitê e militante do PSTU.

Evanilce Bispo, de Diadema, observa que o preço da passagem de ônibus na cidade (R$ 3,20), é maior que o preço do trólebus (R$ 3,10). “E o trólebus ainda oferece um serviço melhor”, reclama.

A majoração das tarifas de ônibus em seis cidades do ABC, decretada no início de janeiro, não só gerou reclamações como desencadeou protestos. O primeiro prefeito a ouvir o grupo foi Carlos Grana (PT), em Santo André, nesta quinta-feira (7).

De acordo com Marcelo Reina, presidente do PSOL local e um dos organizadores do movimento, Grana se comprometeu a participar de uma audiência com o Comitê, a população e a SA Trans, empresa de ônibus responsável pelo sistema municipal, a fim de esclarecer se o aumento é “justificável”. “A gente tem dificuldades de abrir diálogo com os prefeitos e não vamos desistir enquanto não derrubarmos esse aumento”, diz Reina.

Prefeituras admitem demora de até 55 minutos:

Responsáveis pela fiscalização e regulamentação do transporte público municipal, as prefeituras têm ciência do grau de insatisfação dos usuários com o serviço de transporte coletivo prestado, principalmente em relação à demora e irregularidade nos horários dos ônibus.

São Bernardo, Diadema e Mauá admitem que é a principal queixa, mas que os intervalos de até 55 minutos são apenas em linhas que apresentam pouca demanda.

É o que acontece em São Bernardo. O município informa que o intervalo entre as linhas de maior demanda varia entre oito minutos no horário de pico e 20 minutos ao longo do dia. Mas para as linhas de pouca demanda, a regra é outra: o usuário tem de esperar 35 minutos pelo coletivo em períodos de maior movimento, enquanto nos demais horários, a espera pode chegar a 55 minutos.

De acordo com Diadema, o intervalo entre as linhas varia entre 8 e 12 minutos e as saídas são monitoradas por GPS. Em São Caetano, o tempo médio de intervalo entre os ônibus (considerando linhas distintas e fins de semana) varia entre 10 e 15 minutos.

Santo André e Rio Grande da Serra não responderam ao pedido de informações sobre o sistema, enquanto Ribeirão Pires e Mauá não informaram o intervalo médio das linhas de ônibus municipais.

Legislação é municipal:

De acordo com a lei número 12.587, de 3 de janeiro de 2012, cabe aos municípios “planejar, executar e avaliar a política de mobilidade urbana, bem como promover a regulamentação dos serviços” e ainda “avaliar e fiscalizar os serviços e monitorar desempenhos do serviço”.

Antonio Carlos Cristiano, presidente da Comissão de Acompanhamento de Políticas Públicas da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André, diz que é também atribuição de cada município cuidar do transporte. “A responsabilidade é passada para o Executivo, que a realiza em parceria com empresas. Como não é um serviço privatizado, são feitas concessões”, explica o advogado.

Outro lado da moeda:

Prestadoras de serviço, as empresas de transporte coletivo da região informam que são apenas cumpridoras das exigências determinadas pelas prefeituras.
“As empresas procuram fazer o melhor possível. Em relação ao atraso de horário dos ônibus, os usuários têm de procurar o órgão gestor, o órgão público. É a Prefeitura que determina tudo e é ela que vai dar o diagnóstico do que fazer. As empresas tem uma determinação: faça. Elas não têm nenhuma interferência em itinerário e horário”, afirma Luiz Marcondes de Freitas, gerente geral da Aesa (Associação das Empresas do Sistema de Transporte de Santo André).

Para idosos, subir no veículo é difícil:

A altura dos degraus dos coletivos é o outro obstáculo para os usuários da terceira idade e, também, a principal queixa na Associação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas da Região do Grande ABCDMRPRGS. Como os idosos possuem mais dificuldade e, por isso, são mais lentos para embarcar, os motoristas, quase sempre atrasados, não param no ponto.

“Aí ouvimos justificativas sem sentido, como dizer que não viu o passageiro no ponto ou dizer que o idoso não tinha condições de subir no coletivo e, por isso, ele não parou. É ridículo”, conta Luís Antônio Ferreira Rodrigues, diretor de Políticas Sociais da associação.

Segundo a associação, esse é apenas um de uma série de desrespeitos praticados por motoristas com passageiros mais velhos. “Eles têm de reclamar, porque o sistema e a lei são falhos”, complementa.

A fim de melhorar a relação com a terceira idade, a associação planeja palestras até setembro. Na sétima edição, a campanha é dirigida aos motoristas de ônibus, empresários do setor e passageiros idosos.

“Da última vez, convidamos um motorista acidentado para vir até a frente, mas ele demorou. Com isso, ele viu a dificuldade do idoso”, conta o diretor. “São as empresas e o poder público quem determina os horários apertados e todo o estresse é repassado ao motorista”, diz.

Motoristas estressados:

Pressão, longa jornada de trabalho e muito trânsito. Quem trabalha com transporte coletivo enfrenta uma série de dificuldades, segundo o Sintetra (Sindicato dos Rodoviários do Grande ABC). “A pressão por cumprir horário, somada a problemas, como motoqueiros que não respeitam a faixa e catadores de material reciclável que atrapalham o fluxo de veículos, provocou afastamento de companheiros por estresse”, relata Marcos Antonio Aleixo, secretário do sindicato.

Segundo Aleixo, as prefeituras é que determinam os intervalos de saída dos ônibus. Em horário de pico, variam entre 5 a 7 minutos, fora isso um carro deixa o ponto final a cada 10 ou 15 minutos. “Os horários impostos são antigos e não foram revistos, e o trânsito aumentou”, diz ao contar que as empresas trabalham apenas com duas jornadas, o que obriga a cumprirem longas jornadas de trabalho”, diz.

Fonte:Reporter Diário (Camila Bezerra e Nathalia Blanco)

domingo, 3 de fevereiro de 2013

CHAPA 2,EM DEFESA DOS NOSSOS EMPREGOS!


Emprego industrial naufraga no ABC; serviços já têm mais de 50% das vagas.Região viu suas indústrias fecharem 52 mil postos de trabalho em 2012, número é quatro vezes maior que o de toda Grande São Paulo.

O ABC paulista, berço do sindicalismo brasileiro pós-ditadura, viu suas indústrias fecharem 52 mil postos de trabalho formais e informais em 2012, enquanto os serviços passavam a responder, pela primeira vez na história, por mais da metade do saldo de empregos da região. O corte foi quase quatro vezes maior que o executado em todas as fábricas da região metropolitana de São Paulo, que inclui os sete municípios que formam o ABC.

"Foi um período complicado em que passamos da euforia para a depressão várias vezes", diz Alexandre Loloian, coordenador de análises de pesquisa da Fundação Seade.

O movimento de altas e baixas no ABC teve início em agosto de 2011, quando o governo começou a reverter a política econômica de contenção, na tentativa de retomar o crescimento da atividade por meio da redução dos juros e ampliação do crédito.

O emprego industrial deu um salto, particularmente no ABC, onde foram abertas 40 mil novas ocupações. O nível de emprego industrial atingiu em dezembro um pico considerado fora do normal. Tanto que durou pouco.

"Criou-se uma expectativa absolutamente irreal e a ocupação cresceu muito", conta Loloian. "Chegou no primeiro trimestre de 2012 e deu aquela capotada, porque não se confirmou a retomada." Em março, as fábricas da região já tinham eliminado 58 mil vagas, 18 mil além das que tinham sido abertas.

A situação se complicou, também, porque o emprego industrial no ABC está concentrado no setores que mais sofreram com a crise mundial, como o metalomecânico, que reúne de fabricantes de máquinas para escritório a veículos e autopeças e máquinas e equipamentos.

Responsável por 58% da ocupação na indústria no ABC, o setor metalomecânico fechou 33 mil postos de trabalho em 2012. Na Região Metropolitana de São Paulo, cuja estrutura industrial é mais diversificada, o emprego ficou praticamente estabilizado. Perto de 38% dos empregos da região metropolitana estão nesse setor.

Trabalhador atordoado:

O técnico mecânico Luís Antonio Alves, de 40 anos, conhece de perto a sensação de insegurança que os processos ciclotímicos causam nas pessoas. Em 16 de outubro de 2012, nasceu sua filha Maria Vitória. Menos de dois meses depois, o empresário Robert Mangels, presidente da metalúrgica Mangels, de São Bernardo do Campo, onde Alves trabalha há 17 anos, reuniu os 360 funcionários para comunicar que a empresa seria fechada. Ele encerra suas atividades em São Bernardo no dia 28 deste mês.

"Fiquei atordoado. Minha filha tinha acabado de nascer e eu ia perder o emprego e ficar sem convênio médico", conta.
A situação ficou um pouco menos dramática porque o sindicato negociou com a empresa um acordo que prevê indenização adicional de 40% do salário por ano trabalhado, seis meses de plano médico e cesta básica por quatro meses, entre outras compensações.

A participação da indústria no emprego do ABC caiu de 28%, em 2011, para 22%, em 2011, segundo a Fundação Seade. Já os serviços passaram a responder por 51% de todos postos ocupados na região, ante 47% em 2011. "É uma tendência natural de todas as aglomerações em estágio de desenvolvimento no mundo", diz Loloian. Para ele, o fenômeno não significa necessariamente que a indústria esteja perdendo substância em termos de geração de riqueza e dinamismo econômico. "Ela pode ampliar o valor agregado com muito menos gente empregada".

Na avaliação de Paulo Francini, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o ABC tem o azar de ter uma concentração de setores industriais que mais perdem na atual conjuntura. "Temos um ambiente que é de pobreza, e dentro da pobreza tem a miséria. Pobreza é o Estado de São Paulo, que perdeu milhares de empregos. A miséria são as áreas, como o ABC, que concentram os setores que mais perderam."

Fonte:Marcelo Rehder (O Estado de S. Paulo)