A direção do Sindicato de Metalúrgicos de São Paulo era considerada “pelega” e apesar do arrocho salarial,das perseguições aos trabalhadores que reclamavam das péssimas condições de trabalho,os diretores seguiam os ditames do Governo Militar e do Ministério do Trabalho,apoiando a proibição de greves e outras formas de organização operárias.Fora da estrutura do sindicato apoiando seus movimentos de base,os trabalhadores iniciaram um movimentos de libertação nos bairros,nas igrejas e ao mesmo tempo,pequenos grupos no interior das empresas,conhecidos como comissões de fábricas.Incentivadas pela Chapa 2,conhecida como Oposição Sindical Metalúrgica,conduzida por Waldemar Rossi,as comissões iniciaram lutas pontuais por melhoria das condições de trabalho,com cursos de formação de lideranças,debates sobre conjuntura nacional e internacional,que eram realizadas principalmente nas igrejas e associações de moradores, pois a repressão política e sindical era muito grande.
As lutas dos anos 70:
Durante a presidência o general Ernesto Geisel,em meio ao “milagre econômico”,no auge da repressão,os militares tentavam amenizar com uma proposta de “distensão política lenta, gradual e segura”.Mas a ditadura e a repressão seguia firme com assassinatos e desaparecimentos de lideranças dos trabalhadores,em 1975, o jornalista Vladimir Herzog, diretor de Jornalismo da TV Cultura, depois de preso nas dependências do DOI/CODI de São Paulo, acusado de ter ligações com o PCB, aparece morto em sua cela. O operário Manoel Fiel Filho é preso em 1976,por policiais do DOI/CODI, na empresa onde trabalhava, acusado de distribuir o jornal Voz Operária e pertencer ao PCB. Aparece morto e a nota oficial do exército alega suicídio,diante disso acirram-se as lutas operárias em São Paulo e no Grande ABC.
Em São Bernardo do Campo, no dia 12 de Maio de 1978, os trabalhadores metalúrgicos da Scania pararam por conta própria,reivindicando 21% de aumento salarial. Essa ação foi se espalhando por todo o Estado e no dia 29 de Maio os trabalhadores da Toshiba, em São Paulo, também paralisam sua produção. Um dos integrantes da comissão de fábrica da Toshiba era Anísio Batista, que junto com Santo Dias, encabeçaram a Chapa 2 de Oposição nas eleições sindicais/impugnadas/fraudadas de 1978. Eram duas lideranças novas, reconhecidas pelo forte trabalho de base que tinham deixado raízes nas fábricas por onde passaram e que acreditavam que somente os trabalhadores poderiam derrotar a ditadura política/sindical.
Às vésperas da eleição do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Santo Dias foi denunciado pelos "pelegos" do sindicato aos patrões e demitido da Metal Leve, onde a esta altura já era inspetor de qualidade.Ajudado pelos companheiros da categoria,foi empregado em sigilo na empresa Alfa Fogões.Concorrendo às eleições sindicais,mas a Chapa 2 "Oposição Metalúrgica,foi passada para trás e declarada perdedora".A Oposição denunciou as tentativas de impugnação e fraudes grosseiras ocorridas durante a eleição,o que deveria tornar obrigatória a realização de novas eleições em 15 dias. Mas, Joaquim Santos Andrade,o Joaquinzão que presidiu o sindicato por mais de 30 anos, foi a Brasília, encontrou-se com o então ministro do Trabalho, Arnaldo Prieto,que contrariando a maioria dos trabalhadores,o re-empossou por lá mesmo.
Em agosto de 1979, depois de vários anos de intensa movimentação popular exigindo anistia aos presos políticos e exilados, o governo militar editou a Lei de Anistia, estendendo-a também a torturadores e participantes do aparato repressivo. Em março,após as eleições sindicais a Chapa 2,se transforma em movimento Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo,faz seu primeiro congresso definindo como princípios de sua atividade uma frente de sindicalistas que lutavam pela mudança da estrutura sindical, que entendia que deveria ser os sindicatos os representantes de fato dos trabalhadores e independentes do Estado,e que suas direções deveriam ser organizadas e conduzidas a partir das comissões de fábrica e das representações de base dos trabalhadores.Santo Dias participa desse processo agora mais amadurecido pela teoria e pela prática. Organizou o 1º Congresso da Mulher Metalúrgica,reforçou as teses da oposição e decidiu levá-las para várias categorias de trabalhadores.Em outubro,em meio a perseguição dos militares e dos pelegos do Sindicato,os trabalhadores metalúrgicos conduzidos pela oposição começam uma nova campanha salarial. Desta vez, a reivindicação era 83% de aumento dos salários,não aceita pelos patrões. Uma assembléia com seis mil trabalhadores na rua do Carmo decidiu, numa sexta-feira de chuva, iniciar uma ampla greve.
Morte de Santo Dias:
No primeiro dia da paralisação, 28 de outubro de 1979, as subsedes do Sindicato, abertas para abrigar os comandos de greve, foram invadidas pela Polícia Militar,que prendeu mais de 130 lideranças de fábricas. Sem o apoio da direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo,da qual era oposição e com a intensa repressão policial sobre suas ações,os metalúrgicos passaram a se reunir secretamente na Capela do Socorro,se transformando na região de maior concentração da categoria e da oposição. No dia 30 de Outubro de 1979, Santo Dias,como membro dos trabalhadores no comando de greve,saiu da Capela do Socorro, para engrossar um piquete na frente da fábrica Sylvânia e discutir os rumos da greve,com os operários que entravam do 2º turno.
Várias viaturas da PM chegaram de repente e prenderam vários trabalhadores e Santo Dias tenta dialogar com os policiais para libertar os companheiros presos. A polícia agiu com brutalidade espancando todos que ali se encontravam,e o PM Herculano Leonel na maior traição,saca sua arma e atira em Santo Dias pelas costas.Mesmo socorrido e levado pelos policiais para o Pronto Socorro de Santo Amaro,já estava morto. O corpo de Santo Dias só não “desapareceu misteriosamente” por conta da coragem de sua esposa e lutadora Ana Maria,que sempre acompanhou e apoiou as lutas dos trabalhadores,entrou no carro da polícia que transportava seu marido e seguiu para o Instituto Médico Legal, apesar de abalada emocionalmente e pressionada pelos policiais a descer, não cedeu e seguiu firme.
Divulgada a notícia de sua morte pelos vários meios de comunicação, seu corpo seguiu para o velório na Igreja da Consolação.E no dia 31 de Outubro de 1979,silenciosamente mais de 30 mil trabalhadores de forma autonôma deixaram suas fábricas e suas casas e saíram às ruas de São Paulo para acompanhar o enterro e protestar contra a morte do líder operário Santo Dias,gritando palavras de ordem e de mãos dadas,diziam:Que caiam as ditaduras políticas e sindicais,pois amanhã vai ser outro dia.
*Primeira parte do curso de formação política do MRCL